{Resenha} A Escolhida — Lois Lowry


Livro: A Escolhida
Título original: Gathering Blue
Autor (a): Lois Lowry
ISBN: 9788580413472
Editora: Arqueiro
Páginas: 192

Sinopse: Kira, uma órfã de perna torta, vive em um mundo onde os fracos são deixados de lado. A partir do momento da morte de sua mãe, ela teme por seu futuro até que é perdoada pelo Conselho de Guardiões. A razão é que Kira tem um dom: seus dedos possuem a habilidade de bordar de forma extraordinária. Ela supera a habilidade de sua mãe, e lhe cabe a tarefa que nenhum outro membro da comunidade pode fazer. Enquanto seu talento a mantêm viva e traz certos privilégios, ela percebe que está rodeada de mistérios e segredos, mas ninguém deve saber sua intenção de descobrir a verdade sobre o mundo.

SÉRIE “THE GIVER”

    1.  O Doador de Memórias
    2.  A Escolhida
    3.  The Messenger
    4.   The Son

A Escolhida – escrito por Lois Lowry – é a continuação do livro O Doador de Memórias, utopia já adaptada aos cinemas desde 2014 e publicada pela Editora Arqueiro no Brasil. Essa obra tem como sequência: The Messenger e The Son, formando o quarteto da série The Giver. Leia a resenha a seguir!
    Kira perdeu a mãe muito cedo, e para piorar sua situação,
seu humilde casebre foi queimado para que a doença de sua progenitora não
alcançasse outras famílias. Agora Kira teria enfrentar as cruéis mulheres que
queriam despejá-la para fora da comunidade e deixa-la à mercê das mortais feras
desconhecidas.

     Infelizmente,  nossa
protagonista nascera aleijada e sua perna torta a impedia de ser mais útil para
o vilarejo. Entretanto, Kira tinha um dom raro e especial: sabia tecer como
ninguém, aptidão que somente sua mãe falecida tinha conhecimento. Com receio de
ser expulsa, Kira apela para o Conselho de Guardiões – que, misteriosamente,
tinha ciência de sua habilidade – e acaba sendo poupada, com uma única
condição: que tecesse a roupa do Cantor.

     Tratando-se de uma tribo do futuro, o Cantor era encarregado
de entonar o Hino, canção que contava com detalhes a história inteira do mundo
e da humanidade através das Eras, e, inclusive, sobre a Ruína – evento em que a
natureza se revoltou e acabou com as construções e boa parte da espécie humana.

     Mas o Cantor também tinha um dom especial, assim como o
Entalhador, e assim como a Tecelã, a própria Kira – e todos eram mantidos pelo
Conselho de Guardiões, enfurnados, praticando a sua habilidade de forma intensa
e interminável.

     Concentrada em seu difícil trabalho, nossa personagem tenta
aprender a colorir as linhas desbotadas para dar vida às vestes do Cantor, mas ainda falta algo… Algo que somente uma tribo longe poderia ter: a cor azul. Será
que Kira conseguirá obter essa coloração? E quanto isso lhe custaria?

     A criatividade de Lois Lowry mais uma vez se superou. E,
apesar de A Escolhida não ter, de fato, uma ligação com o primeiro volume – O Doador
de Memórias –, a autora soube criar outro “universo” igualmente genial e
peculiar
.

     Talvez esse segundo volume tenha me conquistado mais que o
primeiro. A tribo e a realidade de Kira eram realmente mais simples que a comunidade
tecnológica e extremamente organizada de Jonas, no primeiro volume. Contundo,
acredito que a narração em terceira pessoa tenha evoluído drasticamente nessa
continuação, pois deixou de ser rasa para se tornar extremamente metafórica
e sentimentalista.

     O Doador de Memórias me pareceu menos convidativo pela sua
narração construída por muitos diálogos e poucos detalhes a cerca do personagem
principal. Talvez, essa linguagem e expressões tenham sido feitas de forma
proposital
porque a história se desenrolava a partir de uma
criança com poucas faculdades mentais em um mundo altamente mecânico e sem
sentimentos, enquanto em A Escolhida, temos contato desde o inicio com uma
realidade brutal e angustiante de uma adolescente que foi obrigada a amadurecer.

     Kira era uma personagem que me identifiquei muito!Era confusa e medrosa, mas ainda sim, forte e determinada. Ja Thomas, Jaminson, Matt e Vandara foram outros personagens marcantes e bem desenvolvidos, cada um com suas características próprias, inclusive nos diálogos. 
     Houve sim, uma parte do livro que a autora se tornou mais
mecanizada, deixou de ser detalhista, e deixou, infelizmente, de
transparecer tanta emoção. Essas cenas já estavam sendo tomadas por muito
mistérios e acontecimentos rápidos e seguidos, e, provavelmente, Lois
simplesmente não teve oportunidade de aprofundar seus personagens.

“Orgulhe-se de sua dor”, sua mãe sempre lhe dizia “Você é mais forte do que aqueles que não sentem dor alguma.”

     Mas a história é impressionantemente boa. Boa, porque a
autora apresentou o mesmo objetivo do primeiro livro em um mundo e um contexto
completamente diferente. Lois novamente trouxe a ideia das “cores”. As mesmas
cores que faltavam no mundo do Doador de Memórias, e que somente Jonas e o
velho Doador podiam enxergar e que, agora, Kira tentava transmitir para seus
tecidos. Nesse vilarejo, todos usavam roupas de uma cor só, básica, e com tom
morto; Kira queria dar vida à suas obras.

     E novamente há a temática “revolução”, assim como a tirania,
assim como a mentira e a ilusão, assim como a crueldade humana e a traição.
Lois Lowry aproveitou os mesmos pontos principais do primeiro volume neste
segundo, e, estranhamente, esses quesitos foram o único indício de semelhança
entre os primeiros livros da série. As histórias simplesmente não se cruzaram
nessa obra.

     A Escolhida tem muito mistério e surpresas; isso foi o
suficiente para lê-lo até o seu fim, tentando compreender até onde a autora
gostaria de chegar. Seu clímax e seu desfecho foram espetaculares e
estimulantes para prosseguir na leitura da série. Definitivamente, A Escolhida me
arrebatou
muito mais que O Doador.
     Simplesmente não sei qual é o objetivo da autora nessa
série. Tenho algumas suposições, mas ainda são rasas. Porém, adoro ficar nesse “escuro” cheio de
expectativas, forjado pela autora. Não saber o destino dos personagens da série
é estimulador e garante muitas surpresas. A Escolhida terminou deixando muitas
brechas abertas e me fez ficar ansiosa para a continuação.

     A Editora Arqueiro não acertou muito na capa. Apesar de ser
lindíssima, simplesmente não condiz com o conteúdo e não segue a mesma linha de
capas da série. Relembrando novamente que a personagem principal,
definitivamente, não é uma garota linda, de unhas feitas e bem maquiada. Já a diagramação
foi muito bem organizada: a fonte da letra e a cor do papel utilizado contribuíram
muito
para que a leitura fosse feita!

     Indico esse livro a todos que apreciam esses universos
futurísticos, que tem uma pitada equilibradíssima de fantasia, e que apresentam
ideias revolucionarias e encantadoras. Se você leu O Doador e gostou, indico
ainda mais esse próximo volume; agora, se você leu O Doador e não apreciou
muito, dê uma chance a A Escolhida, essa obra com certeza superou muitos “deslizes”
anteriores.

Primeiro Parágrafo:
“ – Mãe?
Não houve resposta. Ela não esperava que houvesse. Fazia quatro dias que sua mãe estava morta e Kira percebia que os últimos resquícios do seu espirito já se dissipavam.”

Melhor Quote:
“Ela costumava estar ali. Agora não estava mais. Vida que segue.”

5/5 - (1 voto)
Sair da versão mobile