{Resenha} A Herdeira das Sombras – Anne Bishop

Livro: A Herdeira das Sombras
Título Original: Heir to the Shadows
Autor (a): Anne Bishop
Editora: Saída de Emergência
ISBN: 9788567296180
Páginas: 480

Sinopse: Há 700 anos, num mundo governado por mulheres e onde os homens são meros súditos, uma profetisa viu na sua teia de sonhos e visões a chegada de uma poderosa Rainha. Jaenelle é essa Rainha. Mas mesmo a proteção dos Senhores da Guerra não impediu que os seus inimigos quase a destruíssem. Agora é necessário protegê-la até as últimas consequências. Três homens estão dispostos a dar a vida por Jaenelle. Mas há quem seja capaz de tudo para controlar ou destruir a Rainha. Conseguirá ela cumprir seu destino como detentora do maior poder que o mundo já conheceu?


TRILOGIA “AS JOIAS NEGRAS”

    1. 

 A Filha do Sangue

    2. 

 A Herdeira das Sombras

    3. 

 A Rainha das Trevas (previsão para 2015)

    O segundo livro da trilogia das Joias Negras se inicia retomando alguns eventos da história de Jaenelle, a poderosa jovem predestinada a se tornar A Feiticeira dos Sangue. Depois dos traumáticos acontecimentos de Briarwood, a menina abandonou seu corpo para não lidar com os sofrimentos pelos quais passou. Dois anos depois – agora com catorze anos –, Jaenelle finalmente reconstrói sua essência e desperta para o mundo dos vivos – mas ela não é mais a criança que já foi, e, em adição a isso, seu poderes parecem ter apenas ficado mais fortes.
   Ao mesmo tempo, o leitor é apresentado a uma complexa teia de poder e ambição, na qual aqueles que querem o controle dos reinos não pouparão esforços para cumprir seus objetivos. A jovem Jaenelle representa esperança para aqueles que vêm sendo explorados, e uma ameaça às ambições dos que desejam o poder – e, sendo assim, necessita ser destruída; ou usada como uma arma a favor dos que a desejam.
   Recomendo fortemente que, se ainda não conhece a série, leia minha resenha de A Filha de Sangue antes de ler a que está a seguir. Essa resenha está livre de spoilers do segundo livro, contudo, por tratar-se de uma série, é quase impossível falar sobre esse livro sem citar importantes acontecimentos de A Filha do Sangue, o que pode revelar alguns fatos dos livros para você.
   Como já disse na resenha do primeiro livro, essa série me surpreendeu e chocou como poucas. Fiquei completamente enredada pela história do universo criado por Anne Bishop, e, depois do bombástico final do livro anterior, extremamente curiosa por uma continuação. Eis que a sequência finalmente chegou às livrarias brasileiras pela Saída de Emergência – e, mais uma vez, Anne Bishop não me decepcionou.
    A narrativa é feita sempre em terceira pessoa, alternando entre diversos pontos de vistas – desde pessoas queridas à Jaenelle a aquelas que a desejam destruir. É importante frisar para quem ainda não leu a série que, em nenhum momento, quem narra os fatos é a própria protagonista. A conhecemos apenas pelos pontos de vistas dos demais e por suas atitudes. Essa maneira de contar a história me chamou atenção desde o começo na série, e ainda é algo tão inovador que se tornou uma de minhas coisas preferidas sobre tais livros.
    Ainda fico abismada com a incrível habilidade de narração da autora. Anne Bishop possui uma linguagem culta, sucinta, mas que, ao mesmo tempo, consegue ser extremamente poética e bonita. A narrativa é ideal para o rumo da história, sendo fluída, rica em detalhes e muito bem arquitetada – fiquei, de fato, impressionada com a maestria da autora ao inserir pequenos detalhes que parecem insignificantes, mas que farão uma enorme diferença no futuro.
    Nesse segundo volume, é possível notar, logo de cara, que algumas mudanças significativas foram feitas pela autora quanto a sua maneira de conduzir o enredo. Primeiramente, a participação de Jaenelle é mais reduzida, algo completamente inovador – afinal, um livro com uma protagonista que não aparece de maneira frequente não é a história mais comumente encontrada. Não que isso seja ruim; na realidade, adorei esse novo ponto de vista, e acredito que essa foi a maneira que Bishop encontrou para dar mais espaço ao desenvolvimento dos homens da história.
   O fato mais significante é que Daemon – que, no primeiro livro, divide o protagonismo com seu pai – tem sua participação reduzida. É possível compreender, ao longo da leitura, o porquê de isso ter acontecido, mas, ainda sim, gostaria de ter visto mais do personagem, que é um de meus favoritos. Ao mesmo tempo que Daemon é um tanto deixado de lado, entretanto, Lucivar – o misterioso eyrieno do qual pouco sabíamos – é finalmente apresentado ao leitor pelo seu próprio ponto de vista, e tem sua história explorada.
   Saetan, todavia, é o ser no qual grande parte do livro está focado. Ele, como Senhor do Inferno, toma todas as importantes decisões e luta com todas suas forças para possuir a guarda de Jaenelle. É interessante observar seus sentimentos para com a menina – que, apesar de terem tido uma conotação amorosa no início, agora são completamente paternalistas –, sendo ele o temido Senhor do Inferno, mas ficando completamente à mercê das vontades de uma adolescente. Tudo isso rende boas risadas ao longo da história, ao mesmo tempo que revela um lado até então desconhecido de Saetan e nos faz simpatizar com ele.
   Chamou-me atenção, desde A Filha do Sangue, a maneira como Bishop constrói seus personagens, e isso apenas de acentua nesse segundo livro. Aqui – assim como no mundo real – não existem pessoas completamente boas, e muito menos completamente más. Vemos os temidos e infames Senhores da Guerra sendo conduzidos e encantados pela bondade e guiados pela vontade de proteger aqueles que amam, assim como, alguns momentos depois, fazendo jus à fama macabra que lhes é dada.

   Lembro-me de ter encontrado no primeiro livro temas pesados, com os quais me senti desconfortável – como a pedofilia, incesto e violência explícita –, contudo, A Herdeira das Sombras tem seu enfoque em algo muito mais sutil: a ascensão de Jaenelle. Agora ela não é mais uma menininha que pode ser, até certo ponto, moldada por outrem, e muito menos pode ser acuada. Alianças e a transformação desses meros aliados a uma família também são abordadas, assim como as consequências que tais geram.
    Não se trata de um livro realmente longo, todavia – e apesar de a leitura fluir lindamente –, acredito que ainda não seja o tipo de livro que se lê “de uma só vez”. É uma história ainda densa, forte e com certos momentos nos quais é preciso pausar a leitura para respirar. Isso, contudo, é o que creio que a deixe tão envolvente. O mundo criado por Bishop é complexo e do tipo que gruda na sua cabeça, sendo impossível se distanciar da leitura por muito tempo. E por falar sobre tal mundo…
   Recordo-me que o único fator que verdadeiramente me incomodou em A Filha do Sangue foi a falta de explicação presente no primeiro livro. Por tratar-se de um universo completamente novo, e muito original, fiquei tantas vezes perdida nos fatos e citações de lugares/objetos desconhecidos que lembro que, em certos momentos, isso chegou a ser irritante.
    Em A Herdeira das Sombras, a falta de explicações permanece, mas, dessa vez, não é mais tão difícil acompanhar os fatos como no primeiro livro. Acredito que isso seja devido ao fato de estar já acostumada ao universo – e ter me consolado de que a autora nunca fornecerá explicações para certas coisas! –, mas, assim, a leitura flui de maneira muito mais harmônica e agradável.
   O design pela Saída de Emergência é, mais uma vez, tão mágico e combina tanto com a história que é impossível não ficar encantada. Mais uma vez a editora conseguiu se superar, e acredito que seja um dos trabalhos de design mais originais e belos que eu já tenha visto. Não me recordo de ter encontrado erros significativos de revisão, e a tradução é limpa e muito bem-feita, seguindo o padrão do texto original em inglês.
   Por fim, continuo afirmando que a leitura da séria das Jóias Negras não será algo agradável para todos, por tratar de temas polêmicos e ter algumas cenas que são, de certa maneira, macabras. Contudo, posso afirmar seguinte fato com certeza: gostando ou não da abordagem desses temas, é inegável o fato de que se trata de uma das melhores séries que já li. A incrível arquitetação dos fatos, a originalidade do espaço e a maravilhosa e inteligente escrita da série a levam para o pódio de melhores leituras do ano.

Primeiro parágrafo do livro: 
“O Conselho das Trevas voltou a se reunir.”
Melhor quote:“É mais fácil matar do que curar. É mais fácil destruir do que se preservar. É mais fácil demolir do que construir. Aqueles que se alimentam de emoções e ambições destrutivas, negando a responsabilidade que é o preço de exercer o poder, podem destruir tudo aquilo que todos prezam e protegem. Estejam sempre atentos.”

    

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