{Resenha} Filha da Ilusão — Teri Brown

Livro: Filha da Ilusão
Título original: Born of Ilusion
Autor (a): Teri Brown
Editora: Valentina
Páginas: 288
ISBN: 9788565859295
TRILOGIA “HERDEIROS DA MAGIA”

    1. 

 Filha da Ilusão

    2.  Born of Deception (sem previsão de lançamento no Brasil)

    3.  Born of Corruption (sem previsão de lançamento no Brasil)
   Anna Van Housen é uma ilusionista talentosa. Longe de ser uma garota comum, Anna, aos dezesseis anos, viaja para diferentes lugares com sua mãe, que se denomina Madame Marguerite, uma médium dotada de poderes sobrenaturais. Anna é assistente no show de Marguerite, auxiliando a mãe nos truques e abrindo o espetáculo com pequenos truques de ilusão. Mas, ao contrário de sua mãe, que é uma fraude, Anna possui verdadeiros dons. 
   Capaz de sentir as emoções das pessoas, falar com espíritos e prever o futuro, a jovem sabe o perigo que corre se fosse descoberta; sua mãe, apesar de amá-la, tem a si mesma como prioridade, e não suportaria ver alguém mais tirando a atenção dela. Ciente de que não é capaz de controlar seus dons completamente, Anna lida com eles evitando-os da melhor forma que pode, ao mesmo tempo em que cuida da casa e, sendo a adulta da pequena família, de sua mãe e das contas. 
   Quando um intrigante rapaz chamado Cole se muda para o apartamento vizinho, Anna sabe que ele possui algo diferente de todas as pessoas que já conheceu. Eles desenvolvem uma boa relação de cara, mas parece sempre haver algo a mais acontecendo na vida de Cole. Anna não entende completamente o que está acontecendo, ao mesmo tempo em que precisa lidar com as mudanças ocorrendo abruptamente em seus dons; será Cole a chave para todas as respostas?
    Filha da Ilusão é um livro que consegue chamar a atenção do leitor se muitos esforços; se a linda capa (tanto da edição brasileira, quanto a original) já não fizer tal trabalho, a premissa instigante com certeza irá. Já estava de olho no livro há algum tempo, então, resolvi finalmente satisfazer minha curiosidade ao solicitá-lo para a Valentina, e não posso dizer que me arrependo: trata-se de um dos melhores livros do gênero que já li.
    O plano de fundo da história é a Nova York da década de vinte, nos Estados Unidos, onde a lei seca estava em vigor e o miticismo em alta. Como qualquer boa apreciadora de livros históricos, não posso deixar de dizer que esse fato contribuiu, sim, para meu interesse: mas também preciso frisar que a cada página que lia da obra, tinha uma surpresa.
    É incrivelmente perceptível a extensa pesquisa realizada por Teri Brown sobre tudo o que envolve a época que a autora resolveu pintar em seu livro. A sociedade, a ambientação e os costumes, tanto quanto o modo de vida de todas as classes, são perfeitamente retratados, com uma magnitude de detalhes que impressiona até mesmo aqueles que não são fãs de história. Isso foi algo que me conquistou rapidamente, pois é comum o autor da obra em que o foco é outro deixar detalhes tão significativos como esses de lado, e, felizmente, isso foi algo que Brown não cometeu.
    A narrativa é em primeira pessoa, sob o ponto de vista da Anna, e confesso que essa foi uma das poucas vezes na qual eu fiquei contente com o modo como tudo era retratado; geralmente, prefiro narrações em terceira pessoa, devido a possibilidade de um ponto de vista maior. Todavia, a primeira pessoa, nesse caso, foi brilhantemente bem usada: tanto para descrever os dons de Anna, quanto para manter o mistério que cercava o enredo.
   Particularmente, fiquei muito envolvida pelo modo como Brown escreve. Creio que ela possui uma narrativa detalhada, mas razoavelmente simples; todavia, o que chama atenção é o fato de a autora conseguir procrastinar a história como poucos autores, sem deixá-la desinteressante. Na primeira metade do livro, por exemplo, não há nenhum evento realmente significativo: ao leitor é contado muito pouco, e, ainda sim, a história é bem viciante, difícil de parar de ler.

   Acredito ser essa expectativa o ponto alto de todo o livro. Adorei a maneira como, mesmo quando era possível saber que a história ainda precisava de mais informações para o desenvolvimento e que nada estava realmente acontecendo, minha expectativa sempre estava a postos, sabendo que algo estava prestes a acontecer.
    Anna, por sua vez, é umas das melhores (se não a melhor!) personagens adolescentes que já li sobre. Sim, a menina possui apenas dezesseis anos, mas consegue ser muito mais responsável e inteligente que a própria mãe — que, a propósito, consegue deixar até a pessoa mais calma revoltada! —, e é livre dos dramas e discursos de auto-piedade tão recorrentes em livros teen. Muito bem explorada, também, é a estranha relação que mãe e filha possuem, e espero poder ver tal aspecto da vida da protagonista se desenvolver mais ainda nos próximos livros.
    Os personagens em geral, por sua vez, são muito bem criados. Gostei do modo como a autora soube criar pequenas — mas importantíssimas! — aparições para todos, sem tirar o foco da trama de Anna, ao mesmo tempo que fornecia todo um plano de fundo para os demais. Demais que eram, a propósito, numerosos para um livro razoavelmente curto, resultando em um desfecho muito bem desenvolvido.

   Sou bem clara em todas minhas resenhas nas quais preciso abordar o tema: eu detesto triângulos amorosos. Essa foi uma das poucas vezes, contudo, que tal arranjo não me incomodou tanto. É claro, ainda havia cenas um tanto forçadas e o casal principal passou por brigas desnecessárias, mas isso tudo foi bem feito. Tudo, creio eu, pelo motivo de Anna sempre saber de quem realmente gostava, e qual seria o caminho que seu coração indicava.

     Por fim, creio que o que me encantou mais foi o fato de que a autora poderia ter seguido tantos caminhos clichês já traçados — e extensamente explorados em livros teen! —; mas ela não fez nada disso. E só me surpreendia a cada página da história, quando via que isso não iria acontecer e que o sobrenatural aqui mostrado consegue (com suas limitações, é claro) ser original e criativo.
    Essa edição da Editora Valentina é, sem dúvidas, um dos melhores trabalhos da editora, sem qualquer sombra de dúvidas. O esmero com o qual a edição foi montada é perceptível; tanto pela capa linda — que, em minha opinião, é muito melhor do que a original! —, quanto pela diagramação cheia de uma arte muito bem feita. A tradução também merece parabenizações, sendo muito clara e coerente.
    Filha da Ilusão possui todas as qualidades que um bom livro que aborda o sobrenatural ou um romance deve ter. Com uma narrativa altamente viciante, muita originalidade e uma escrita detalhada, é fácil identificar uma trama inteligentíssima de um assunto pouco explorado ainda. Extremamente recomendado!

Primeiro parágrafo do livro:
“Sinto um arrepio na nuca antes mesmo de vê-lo dobrando a esquina. Ele avança na minha direção com o passo gingado, balançando o cassetete, de vez em quando erguendo a aba do boné azul para os transeuntes. (…)”
Melhor quote:
“Porque a verdade é que o que as pessoas dizem nem sempre é o que sentem.”

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