{Resenha} O Oceano no fim do Caminho — Neil Gaiman


Livro: O Oceano no fim do Caminho
Título original: The ocean at the End of the Lane
Autor (a): Neil Gaiman
Editora: Intrínseca
Páginas: 205
ISBN: 9788580573688

Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino. Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.

Escrito por um renomado autor da literatura internacional, Neil Gaiman, e publicado pela editora Intrínseca em 2013, “O Oceano no fim do Caminho” traz polêmicas a cerca de sua história: seria, de fato, a infância do autor retratada nesse livro? Confira a resenha a seguir. 
     Tudo começa quando o protagonista, na volta de um funeral, decide reviver sua infância e procura o lago que sua amiga de infância, Lettie, chamava de oceano. A partir desse encontro, várias memórias antigas e supostamente esquecidas retornam. 
     Ele relembra o episódio em que seus pais decidiram alugar um quarto da casa para um forasteiro, um minerador que acabou se suicidando dentro do carro da família por motivos financeiros. Logo depois desse episódio, acontecimentos estranhos começam a se desenrolar nas vizinhanças. Uma moeda brota em sua garganta no meio da noite, e Lettie – a qual conhecera no dia da tragédia por um acaso – o leva para um passeio na floresta do terreno da família dela.
     Assim encontraram uma espécie de demônio, que por puro descuido acaba se agarrando na vida do nosso protagonista. Quando este retorna para casa, percebe que sua mãe havia contratado uma governanta para cuidar das crianças, Ursula, uma jovem muito bela, porém, aparentemente cruel.
     Não demora muito para a criança notar que Ursula é o demônio tentando desgraçar sua vida e da sua família. Em uma fuga desesperadora, o garoto procura Lettie e sua família “bruxa” para salvá-lo dessa perseguição. 
     Será que ele conseguiria se livrar desse mal que assolava sua casa e que corrompia seus pais? Será que ele voltaria a viver feliz sobre aquele solo?
     O Oceano no fim do Caminho é um livro extremamente peculiar pelas suas características infantis. Vemos uma mentalidade imatura na narração, que muito bem empregada ao protagonista, foi essencial para que a história tivesse o destino desejado. Neil Gaiman queria buscar o olhar infantil nessa narração, a concentração em certos acontecimentos e a distração em outros.


     Foi muito interessante saber a opinião do protagonista em alguns assuntos, revivendo em nossa mente a interpretação diversificada de uma criança diante alguns assuntos. Mas há certa confusão nesse modo de desenvolvimento que Neil criou. Por advir de uma visão de uma criança, alguns acontecimentos da realidade estavam muito misturados com o lado fantástico, numa metáfora um tanto bagunçada e pouco esclarecida. Trata-se de um livro que não agradará muitos pela essa fusão confusa dos elementos não-fictícios e fictícios.
     A descrição da infância me envolveu, instigando minha curiosidade. A todo momento eu queria saber até onde Neil chegaria. E ter ciência que talvez essa história fosse – cheia de símbolos e representações – a história da infância difícil do próprio autor, fez-me fixar e analisar com minuciosidade o enredo. Fiquei imaginando se quando ele era mais jovem realmente imaginava que a postura firme de seu pai era realmente uma consequência de uma força externa, se culpava uma força maior por tudo o que aconteceu.
     O enredo me decepcionou. O autor poderia ter construído uma alegoria, uma representação mais clara, mais desenvolvida, mais objetiva. Mas tudo se justifica pela falta de clareza do próprio protagonista. Outro ponto que me deixou insegura – porém, curiosa – foi o garoto não ter nome. Por que Neil fez isso? Para nos sentirmos dentro da infância dele? Para ficarmos com uma dúvida eterna se “O Oceano no fim do Caminho” era o ou não sobre sua infância?

“ – Sinto muito – lamentou Lettie. […] – Esse é o problema com as coisas vivas. Não duram muito. Gatinhos num dia, gatos velhos no outro. E depois ficam só as lembranças. E as lembranças desvanecem e se confundem, viram borrões…”


     Acredito que o título e os fatos já falam muito sobre o estilo do livro. O lago era pequeno, insignificante para era um oceano para Lettie porque ela queria que fosse. Isso fez esse livro ser, de certo modo, especial e muito reflexivo. O final do livro foi algo tocante. Vi-me terminando a leitura um pouco insatisfeita pela trama no geral, mas muito tocada e emocionada. Creio que, no final das contas, esse era o objetivo do autor. 
     O livro tem uma capa lindíssima, uma diagramação muito satisfatória. Adoro a fonte da letra e o papel amarelado utilizado pela Intrínseca. Durante a leitura – o livro é relativamente curto, com 205 páginas – não encontrei nenhum erro de revisão ou gramática, e a tradução é fiel ao texto original, muito bem feita. A editora está de parabéns pela publicação!
     É um livro que traz muitos assuntos e lições à tona: fala sobre amizade, lealdade, esperança, forças e apesar de ser um livro que eu afirmo não ter dado tão certo quanto deveria, eu indico muito para a leitura. Foi uma boa experiência e me incentivou a ansiar outros livros do autor. 

Primeiro Parágrafo:
“Era apenas um lago de patos, nos fundos da fazenda. Nada muito grande.”
Melhor Quote:
“Eu não sabia o que era anatomia. Só sabia que a anatomia fazia as pessoas matarem os filhos.”

     

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